sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Conforto Da Inexistência

Pra que se quer ter tudo
Se é mais vantagem não ter nada?
Quer abraçar o mundo
Corre o risco de ser rejeitada

Melhor ainda seria não existir
Teria a mais pura felicidade
Sei que iria conseguir
Alcançar a sua única verdade - eternidade

Pois se quer fazer sofrer
Condene à pena de vida
Seu colo não irá amortecer
A dor da despedida

Aguerrida! Porque viver é lutar
E quem luta sangra, fere
Não há escolha certa: persistir ou renunciar
Há apenas a decisão de quem gere

Quanto menos se quer
Maior a certeza de paz
Inexista enquanto puder
Pois viver é querer demais

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Borboletas

           Todos os dias as borboletas vêm me visitar. E elas me rodeiam, cantam no meu ouvido, murmuram segredinhos alheios. Apenas segredinhos, e eu não vou espalhar! Ah, só Deus sabe como me faz feliz quando me envia uma dessas. Em suas mais diversas cores e formas, elas não têm medo de se aproximar. O dia em que decidirem não mais me acompanhar... guardo para mim o que isso poderia me causar.
            E ontem, que quase sufoco uma dessas em meus dedos. Só porque não era atrativa aos olhos humanos exigentes, acaba por assustar. – Mate-a! Pegue-a! Não a deixe escapar! - Tão inocente a borboletinha, há de ser vítima da perversidade dos que não a entendem. Pego com todo cuidado, como se segurasse meu coração, liberto-a mas não consigo ter certeza de que esta sobreviveu ao rigor da minha atitude. Não tive escolha. A culpa me aflinge por mais alguns minutos até que outra dela vem até mim. Vem avisar que não preciso me preocupar. Um alívio, ora pois! Vou-me embora.
            Eu e meus devaneios... não deixo de pensar na possibilidade de que elas venham à mando de alguém que não pode vir até mim. Incumbidas de me avisar que está tudo bem com ele lá em cima, e talvez encarregadas da missão de me tirar alguns sorrisos sinceros. Posso dizer que está funcionando muito bem e que... – ah, que petulância a minha imaginar estas coisas! Devo apreciá-las e agradecer por sua companhia, apenas isso.
            É com um misto de alegria e tristeza que observo minhas borboletas partirem. Triste porque sua companhia me fora tão útil, que não quero deixá-las irem assim, sem mais nem menos. Alegre porque sei que amanhã elas voltarão novamente. E estou contente. Elas vêm, inesperadamente, e levam de mim, sutilmente, qualquer motivo que possa me tirar lágrimas dos olhos.